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Manejo Movente é o nome de um conjunto de práticas artísticas experimentais desenvolvidas na zona rural do Crato, na região do Cariri Cearense. Criado em 2019 por Raquel Versieux, o projeto foi inicialmente comissionado para o 36º Panorama da Arte Brasileira – Sertão, exposição curada por Júlia Rebouças, no Museu de Arte Moderna, São Paulo. Em seus diferentes momentos, o projeto tem contato com a colaboração direta de artistas como Elis Rigoni, Lucas Tavares e Roberto Freitas.

As comunidades da região vêm enfrentando desafios contínuos relacionados ao direito à terra, marcados tanto por tragédias do passado quanto por conflitos atuais. O passado ainda ecoa com a memória do Massacre do Caldeirão, em 1937, quando a polícia e o exército exterminaram centenas de famílias da comunidade rural do Caldeirão de Santa Cruz do Deserto – formada por seguidores do beato José Lourenço que haviam se reunido para viver de forma comunitária e autossustentável. No presente, essas mesmas terras são palco de tensões devido ao Cinturão das Águas do Ceará, projeto de transposição do Rio São Francisco que tem levado a esforços por desapropriação de terras. Ambas as situações revelam um padrão persistente de desafios ao direito fundamental das comunidades à terra e à autodeterminação.

Lançando um olhar sobre o passado e presente dessa região, o projeto Manejo Movente vem experimentando modos através dos quais a arte possa operar como um meio para o engajamento comunitário, bem como para discussões sobre memória, sustentabilidade ambiental e coesão social. Ao aproximar sua atuação das comunidades rurais do Assentamento 10 de Abril (integrado ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, MST) e moradoras do distrito Baixio das Palmeiras (distantes 40 quilômetros uma da outra), a iniciativa visa traçar, em parceria com essas famílias, reflexões interessadas em debater noções de território e colônia, institucionalização de espaços de arte e práticas colaborativas decoloniais, agroecologia e antropoceno.

Segundo Raquel Versieux, organizadora do projeto, as ações acontecem de forma dialógica com a participação de artistas visuais, lideranças locais, agricultoras e agricultores, pessoas convidadas a construir arranjos colaborativos e a tensionar ao menos dois polos: quem tem direito à imaginação e quem tem direito à terra. Ainda, segundo ela, a importância da manutenção a longo prazo de projetos de arte de base comunitária, como um fator que reforça a dimensão política desse tipo de prática, representa um grande desafio. Isso se reflete no formato dos encontros, os quais estão em constante adaptação às condições gerais de produção, frequentemente adversas e exigentes de resiliência.

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